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Aposentadoria nunca mais?
17-07-2009

Rosane Magaly Martins é presidente do Instituto Ame Suas Rugas Com a oferta de mão-de-obra diminuindo e o número de aposentados aumentando, os regimes previdenciários do mundo passam a ficar insustentáveis. Em 1980 havia cerca de 20 aposentados para cada 100 trabalhadores na ativa no mundo desenvolvido e esta proporção já subiu 25%. Isso significa que daqui a quatro décadas haverá naqueles países, em média, dois trabalhadores na ativa para cada aposentado. No Brasil este cenário é um pouco mais sombrio.Muitos destes países desenvolvidos já gastam cerca de 8% do seu PIB com aposentadorias do setor público.

O Brasil tem 6,5% de sua população composta de idosos, pessoas com 65 anos ou mais e gasta em torno de 13% do PIB com aposentadorias e pensões. Ou seja, gastamos o dobro da média internacional. Estamos nos mesmos níveis de países europeus velhos, como França, Portugal, Holanda, etc., que têm mais de três vezes a proporção de idosos na população que o Brasil. Especialistas consideram que aumentar a idade para se aposentar está no cerne da questão para a manutenção do sistema.

Aumentar a idade para se aposentar implica em discutirmos quando é que se fica velho? Aos 60, 65 ou 70 anos? Nada mais flutuante do que os contornos da velhice, vista como um conjunto complexo fisiológico-psicológico e social. Estilo de vida, o meio ambiente, situação social aceleram ou retardam a evolução bio-psicológica e entramos na velhice em idades muito diferentes.

Trabalharemos com um cenário de envelhecimento que pode ser paradoxo. Idosos ricos e de classe média alta, em boa forma, ativos consumidores e que integram o mercado com passeios turísticos, seguros de vida e outros produtos e de outro, idosos pobres dependentes de um sistema de saúde que não atende todas as suas necessidades e um Estado que não consegue prevenir moléstias do envelhecimento.

A medicina rentabiliza ganhos e se especializa em envelhecimento, laboratórios apresentam medicamentos sempre mais poderosos e os cosméticos prometem verdadeiros milagres. Entretanto, economistas se inquietam frente ao aumento de aposentadorias e os demógrafos se desolam com uma pirâmide de idades invertida - mais velhos, menos jovens - que aponta, a médio prazo, para um Brasil cheio de rugas.

Já trabalhamos com conceitos que dizem aos envelhecentes que o trabalho enobrece e quem se mantenha no mercado será mais feliz e longevo. Pode ser que sim, pode ser que não pois o envelhecimento é certo para todos. No entanto, a criança discriminada se transforma em adulto marginal e em velho de maneira desigual, marginal e discriminatória da criança rica. ?‰ sobre estes cenários e perspectivas que devemos nos debruçar. Ou teremos uma legião de idosos que nunca terão o direito ao lazer, ao prazer e à aposentadoria, por força de um suposto equilibrio previdenciário, mas humanamente desigual e injusto.

reportagem


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